Uma investigação iniciada em março, no âmbito de uma bolsa de doutoramento de quatro anos, procura avaliar a saúde estrutural do Mosteiro da Batalha, Património Mundial da Unesco, com o objetivo de prevenir.
À agência Lusa, a estudante de doutoramento em Engenharia Civil da Universidade de Aveiro Inês Bourgeois, explicou hoje que o trabalho quer “contribuir, de certa forma, para ajudar aqui no mosteiro a fazer monitorização e caracterização estrutural”.
“Isto vai envolver várias partes, desde o levantamento de anomalias para fazer a caracterização estrutural, para depois fazermos uma monitorização”, declarou Inês Bourgeois, adiantando que o trabalho que “envolve diferentes áreas”.
O professor de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro e um dos orientadores do doutoramento, Hugo Rodrigues, referiu que se pretende “ir monitorizando o comportamento do mosteiro ao longo do tempo”.
Segundo Hugo Rodrigues, este “não é um processo que se resolva num mês ou em dois”, mas “carece de tempo”, para perceber “como é que ele [mosteiro] se mexe, como é que ele se comporta”, e antecipar “algumas medidas” que possam ser necessárias.
No âmbito do doutoramento, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e Direção-Geral do Património Cultural, está a ser criado um modelo digital “gémeo” do mosteiro e a fazer-se a monitorização em locais onde foram identificadas fissuras ou fendas com a instalação de sensores (desenvolvidos com o Departamento de Física da Universidade de Aveiro) feitos de fibra ótica, invisíveis para os visitantes e sem impacto para o património.
A outra vertente em curso é a caracterização das patologias, através de um levantamento mais com base em fotografia, para haver “registos ao longo do tempo e perceber a evolução dessas patologias”.
Atualmente, estão a ser monitorizados três pontos no monumento, dois no Claustro D. Afonso V e o outro no antigo refeitório.
Hugo Rodrigues afirmou que nestes locais constatou-se “movimentos ativos” em cerca de dois meses de monitorização, mas é necessário mais tempo, para perceber se são “dependentes apenas de movimentos térmicos, de movimentos cíclicos anuais ou se são movimentos que estão em progressão e, portanto, precisam de uma intervenção”.
O docente da Universidade de Aveiro admitiu que estes possam estar associados a movimentos de terreno.
“Todas as estruturas estão sempre em movimento, é impossível impedir estes movimentos. Mas o que nós queremos, essencialmente, é conhecer antes da necessidade de fazer uma intervenção, para, no momento de intervenção, tomarmos uma decisão informada”, referiu, notando não haver perigos imediatos para o Mosteiro da Batalha.
Inês Bourgeois destacou ainda que “não são estes quatro anos que vão dar as respostas” todas, pelo que vai ser necessário “fazer um trabalho contínuo”.
“Conseguirmos contribuir aqui para dar essa informação e essa prevenção já é muito bom”, afirmou a estudante de doutoramento, assinalando que se pretende alargar a monitorização na Igreja do monumento.
Hugo Rodrigues assegurou que a caracterização das patologias e o levantamento digital de todo o mosteiro é uma tarefa que vai ser cumprida.
“Não temos necessidade de monitorizar tudo. À medida que o trabalho de inspeção vai sendo feito, vão ser identificados pontos críticos e esses pontos críticos depois vão sendo monitorizados”, acrescentou.
O Mosteiro de Santa Maria da Vitória, na Batalha (Leiria), resultou do cumprimento de uma promessa feita pelo rei D. João I, em agradecimento pela vitória na Batalha de Aljubarrota, travada em 14 de agosto de 1385, que lhe assegurou o trono e garantiu a independência de Portugal.
O monumento é Património Mundial da Unesco — Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.