O restauro da muralha do Alto-Império de Conimbriga, que tem 2.000 anos, e a escavação do anfiteatro são prioridades do Museu Monográfico local nas próximas décadas, revelou o diretor da instituição, Vítor Dias.
“O estado de degradação, fruto de espoliação secular”, da muralha, a primeira da antiga cidade romana, exige “urgente conservação, restauração e consolidação”, defendeu Vítor Dias em entrevista à agência Lusa, antecedida de uma visita ao sítio arqueológico, no concelho de Condeixa-a-Nova, distrito de Coimbra.
Por outro lado, é preciso “criar condições para iniciar a investigação e escavação do anfiteatro localizado junto à povoação de Condeixa-a-Velha”.
“Para perspetivarmos com sucesso o futuro dos próximos 60 anos do Museu Nacional, impõe-se planear diversas tarefas estruturantes que permitirão às novas gerações consolidar as potencialidades de um vasto campo arqueológico”, adiantou Vítor Dias.
Com uma área de 22 hectares, Conimbriga “harmoniza com o território e a paisagem através da sua materialidade, desde Alcabideque, onde se localiza o Castellum Aquae e o início do aqueduto romano que abastecia a cidade, até ao extremo poente da muralha do Baixo-Império”, de construção mais tardia.
“É estrutural conservar e valorizar o troço do aqueduto que se pode observar ao entrar no museu e que é truncado pela estrada de acesso”, preconizou.
O diretor do Museu Monográfico de Conimbriga aposta também na “conservação e restauro e posterior valorização do Castellum Aquae”, a 3,5 quilómetros de distância.
“Tanto o aqueduto como a muralha são exemplares únicos da materialidade romana no atual território português e documentam a singularidade da paisagem envolvente ao Museu Monográfico de Conimbriga e respetivo campo arqueológico”, disse.
Na sua opinião, “será imperioso destacar ambos, muralha e aqueduto, no discurso museológico”, depois da aplicação do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
Estes são alguns dos temas “que devem ser debatidos, planeados e iniciados de imediato”, o que reclama “um plano metodológico interdisciplinar e interinstitucional a longo prazo”, segundo Vítor Dias.
“Não se pode omitir Conimbriga de qualquer reflexão para o entendimento da região”, preconizou, ao realçar que o campo arqueológico deve assumir-se como “portal para a região Centro”, tirando partido da sua “relação particular” com o território.
No vale norte de Conimbriga, na “missão de aproximar” o Museu Nacional, que está a comemorar 60 anos, da povoação de Condeixa-a-Velha, importa “escavar na íntegra toda a Casa dos Repuxos (…), acrescentando conhecimento e área musealizada”, propôs o diretor.
“As escavações na fachada norte da Casa dos Repuxos foram retomadas em 2021, volvidos 82 anos da primeira intervenção”, recordou o arqueólogo, indicando que os trabalhos prosseguem no âmbito do Cluster Experimental de Ciência, numa parceria com a Câmara de Condeixa-a-Nova e a Universidade de Coimbra.
Em novembro, o Museu Nacional promoveu uma reunião com outras entidades públicas da região, com o objetivo de “valorizar a centralidade” do sítio, com vista à formalização do projeto “Conimbriga — Portal para a região Centro”.
Além de Vítor Dias, participaram no encontro o diretor-geral do Património Cultural, João Carlos Santos, um representante da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro, Joaquim Felício, o secretário executivo da Comunidade Intermunicipal (CIM) da Região de Coimbra, Jorge Brito, o presidente da Turismo do Centro, Pedro Machado, e o presidente da Câmara de Condeixa-a-Nova, Nuno Moita.