O festival Música em Leiria perdeu o financiamento que recebia há 40 anos, na sequência dos últimos concursos para o Programa de Apoio Sustentado da Direção-Geral das Artes (DGArtes), uma decisão que o presidente do Orfeão de Leiria considera “inaceitável, incomum e inexplicável”.
A candidatura apresentada para o quadriénio 2023-2026 na área da Programação recebeu a pontuação final de 67,87%. As estruturas são elegíveis para apoio a partir dos 60%, mas o projeto do Orfeão de Leiria ficou de fora por falta de orçamento disponível.
A 41.ª edição está prevista para 2023 mas o festival ressentiu-se da forte quebra na pontuação atribuída relativamente ao concurso de 2020/21.
“É inaceitável, incomum e inexplicável”, afirmou à agência Lusa o presidente do Orfeão de Leiria, Vítor Lourenço, criticando no veredicto do júri “muitas incongruências e incompatibilidades”.
A disparidade entre “os objetivos da candidatura que o ministro da Cultura traçou” e “aquilo que é a apreciação do júri” é identificada na intenção manifestada de “sustentar instituições que têm um histórico e que sempre foram apoiados por mérito” e de “privilegiar os projetos que criam emprego sustentável no setor”. O Orfeão tem 76 postos de trabalho, seis dos quais responsáveis pela produção do festival.
Para a instituição, “a incompreensão maior” reside na quebra de avaliação, que faz com que o Música em Leiria, “que há quatro anos ficou em quarto lugar a nível nacional”, agora, “sendo um projeto mais rico a nível de conteúdo, fica em 31.º e cai na linha dos não-apoiados”.
O presidente do Orfeão aponta o dedo aos jurados escolhidos pela DGArtes:
“Os critérios comunicados são os mesmos do concurso anterior, mas mudou o júri”.
A contestação à classificação apresentada pelo conservatório de artes de Leiria teve como resposta da DGArtes que “a análise efetuada às candidaturas tem subjacente uma margem de livre apreciação, tendo em conta as competências técnico-profissionais do júri”, o que implica “margem de livre e subjetiva apreciação que estes concursos acarretam”, cita Vítor Lourenço.
“Se é subjetiva, como se pode dizer que isto foi uma avaliação independente e objetiva? É incompatível uma coisa com outra. E se é subjetiva, como é que se tem um crivo tão fino que se classificam candidaturas à centésima? Nunca isto aconteceu”, lamentou.
Apesar da “surpresa total” com a decisão da DGArtes, o Música em Leiria “vai acontecer “entre meados de março e fins de março”.
Atualmente, há contactos para tentar reforçar o apoio dos vários municípios e das empresas que patrocinam o evento. A instituição vai ainda recorrer da decisão para o diretor-geral das Artes e tentar a candidatura aos apoios pontuais, avançou.
“O Orfeão tem 75 anos de vida e tem energia e força para dar a volta a estas tormentas provocadas do exterior. No início de janeiro vamos ver se temos condições para ter o mesmo programa ou se teremos de cortar, de acordo com as verbas que temos”, concluiu o dirigente.