Empregada doméstica julgada por burlar patrão em cerca de 80 mil euros

O Tribunal de Coimbra começa a julgar na segunda-feira uma mulher de 61 anos acusada de burlar o patrão em mais de 80 mil euros, quando era sua empregada doméstica, entre 2015 e 2019.

A mulher, atualmente gerente de seguros a residir no distrito de Aveiro, é acusada de um crime de burla qualificada, através do qual terá lesado em mais de 80 mil euros um homem idoso e doente, que vivia em Coimbra, para o qual trabalhou como empregada doméstica.

A arguida começou a trabalhar para a vítima após ter respondido a um anúncio no jornal Diário de Coimbra com vista à contratação de uma funcionária doméstica, ficando responsável por cuidar da casa, fazer as compras necessárias para a sua alimentação e do assistente, e auxiliar nas várias tarefas do quotidiano, incluindo conduzir o veículo do seu patrão, refere a acusação a que a agência Lusa teve acesso.

De comum acordo, a mulher passou a residir na casa da vítima, que pagaria a sua alimentação, e teria direito a uma folga por semana e a um vencimento de mil euros por mês.

A arguida tinha acesso ao cartão bancário da vítima, para fazer pagamentos relacionados com despesas da casa e outros que assim fossem determinados.

De acordo com a acusação do Ministério Público (MP), a mulher terá deixado de apresentar as contas à vítima a partir de 2017, alegadamente para utilizar o dinheiro da conta para fazer compras para si.

“Com o passar do tempo, a arguida passou a utilizar o veículo do assistente nas suas folgas, informando-o de que se deslocaria a Aveiro”, tendo passado a ausentar-se mais do que um dia por semana, justificando que seria para consultas médicas.

Segundo o MP, para realizar as tarefas da arguida durante as suas ausências, o assistente terá acabado por contratar uma outra funcionária doméstica.

Da investigação, constam pagamentos em lojas como a Oysho, Luxury Clinic, Zara, Giovani Gali, Calzedonia, Sfera, assim como em vários restaurantes em diferentes cidades do país.

Na fase de inquérito, a arguida sustentou que todas as quantias que usou foram “ofertas” entregues pelo assistente e que os levantamentos terão sido feitos com a autorização do mesmo.

Já a vítima, em declarações para memória futura, garantiu que a arguida lhe terá pedido dinheiro emprestado para pagar despesas com a saúde.

“Contou que, quando a arguida lhe pedia dinheiro emprestado, se mostrava muito triste, dizia que tinha dores e que, se não se tratasse, ia morrer”, lê-se na instrução do processo.

De acordo com o MP, a arguida dizia que precisava de dinheiro para operações e transfusões de sangue, tendo chegado a estar um largo período ausente da habitação da vítima.

Em janeiro de 2019, o assistente deu entrada no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) por causa de problemas gastrointestinais e acabou por ficar internado para recuperação durante 22 dias.

“Desde o dia em que o arguido foi internado no CHUC que a arguida contactava diariamente os filhos do assistente, a quem dizia que este se encontrava a recuperar bem e que da operação não tinham resultado complicações e que por isso não era necessário deslocarem-se até Coimbra para o visitar”, alega o MP.

Quando os filhos da vítima tiveram conhecimento de que o pai estava internado nos cuidados intensivos, foram visitá-lo ao hospital, momento em que a arguida terá demonstrado “desconforto perante a sua presença”.

O MP salienta que, entre dinheiro emprestado, transferências, levantamentos e pagamento de serviços, a arguida terá lesado o assistente em cerca de 82 mil euros.

O julgamento começa na segunda-feira, às 09:30, no Tribunal de Coimbra.