Empresa de Penacova combate a acácia e aposta no biocarvão

Uma empresa de Penacova propõe-se a contribuir para o combate à acácia, uma espécie invasora cada vez mais presente na floresta portuguesa, transformando-a em carvão biológico, que quase não faz fumo e que tem maior poder calorífico.

O biocarvão Ekoology, que começou a ser comercializado em 2020, utiliza única e exclusivamente a acácia.

A ideia é contribuir para a erradicação daquela espécie invasora da floresta portuguesa, disse à agência Lusa o administrador executivo da empresa Kool Nature, Nuno Cabral.

Este é o primeiro projeto em Portugal do grupo Globescala, com investimentos em Angola, e que arrancou com a vontade de “fazer algo diferente”, tendo decidido apostar na criação de carvão biológico, em contraponto com o carvão vegetal tradicional.

“Percebemos que existe muita acácia em Portugal e que isso é um problema. Cortar um hectare de acácia custa entre dois e três mil euros e é uma madeira que não tem valor económico. Decidimos criar uma mais-valia, não para incentivar a sua plantação, mas para contribuir para o seu abate”, salientou.

Segundo Nuno Cabral, com estimativas que apontam para “milhões de toneladas” de acácia pelo país, o grupo decidiu constituir a Kool Nature em 2018 e avançar com um projeto financiado por fundos comunitários para transformação de acácia em biocarvão.

A empresa criou um complexo industrial em Penacova, concelho onde há muita acácia e próximo de outras zonas onde esta espécie ocupa vastas áreas florestais.

A Kool Nature, que consome anualmente cerca de 12 mil toneladas de acácia, estabeleceu também uma parceria com a WWF (World Wide Fund for Nature) e com o núcleo de investigação da Universidade de Coimbra que se dedica às invasoras em Portugal.

Apesar de aquela espécie estar cada vez mais presente na floresta portuguesa, o mais difícil tem sido encontrar matéria-prima, constatou o responsável.

“Não é fácil mudar as mentalidades. Precisamos de consciencializar os madeireiros, para que eles saibam que há uma unidade industrial que aproveita a acácia, porque eles não olham para ela como se fosse uma fonte de rendimento. Apenas destroçam as acácias para chegar ao eucalipto”, lamentou.

Segundo Nuno Cabral, a empresa trabalha com acácia que tenha um mínimo de oito centímetros de diâmetro e paga entre 40 a 45 euros por tonelada, com entrega no parque.

“A operação tem corrido bem. Este é um carvão muito diferenciado, porque não liberta cheiros nem fumos, é leve e tem um maior poder calorífico”, frisou, sublinhando que tem custos de produção mais elevados do que o modelo tradicional, mas sem as toxinas associadas ao carvão comum.

Neste momento, a empresa assegura a distribuição de biocarvão para todas as lojas da rede de supermercados Aldi em Portugal e tem procurado apostar também em mercados estrangeiros, querendo aumentar a faturação na exportação, que hoje representa apenas 5%, mas que espera que possa chegar aos 40%.

“Todos os anos temos crescido 30% em faturação”, disse, esperando uma faturação de três milhões de euros este ano e de cerca de 3,5 milhões de euros em 2024.

Sendo um produto mais caro e menos conhecido, a empresa ainda não atingiu o “patamar da rentabilidade”, aclarou, referindo que, no futuro, quando o biocarvão for mais conhecido por parte do consumidor, a perspetiva é aumentar o preço.

A empresa emprega 26 pessoas e, em caso de produção máxima, pode chegar aos 32 postos de trabalho.