Santa Maria da Feira: O trabalho que ninguém vê e que faz de Perlim um lugar tão especial

Desde o início de setembro que a equipa responsável pela cenografia de Perlim, parque temático de Natal de Santa Maria da Feira, trabalha de forma ininterrupta e empenhada, para que tudo fique pronto no tempo certo e, acima de tudo, bem executado. As portas abrem no dia 25 de novembro, mas as montagens começam um mês antes. Mais de mil peças e elementos cenográficos de autor vão povoar a Quinta do Castelo e área envolvente.

Invisível para o público e comunidade local, o trabalho diário na oficina de Perlim, alojada num dos pavilhões do Europarque, é minucioso e requer atenção permanente aos pormenores, exigência que contrasta com os prazos apertados para executar tanto em tão pouco tempo, mantendo a qualidade artística e a diferenciação que caracteriza o projeto e da qual ninguém abdica.


Entre 25 de novembro e 30 de dezembro, mais de mil peças e elementos cenográficos, produzidos de raiz ou recuperados de edições anteriores, vão transformar a Quinta do Castelo num lugar mágico e único.


“Perlim não é um produto de catálogo, resulta do trabalho de autor, que não existe em mais lado nenhum, e isso faz toda a diferença”, sublinha Cristiana Henriques, responsável pela cenografia do parque temático, que integra o castelo e o Mercado de Natal.


Na oficina, que é também armazém de toda a cenografia do projeto, gere-se o espaço com engenho para executar e acondicionar devidamente todas as peças – as reaproveitadas e as criadas para esta edição.


“Em Perlim não há lugar a desperdícios. Aproveita-se tudo e tudo se transforma em algo bonito e cuidado”, reforça a cenógrafa, que acompanha o evento desde a primeira edição, lançada em 2008.


Apesar do impacto visual e do número expressivo de elementos cenográficos em armazém, Cristiana lamenta que a equipa não consiga produzir ainda mais e se possível melhor – angústia permanente de quem cresceu com Perlim e deu muito de si para que o projeto crescesse com qualidade, consciente de que “manter e elevar a fasquia exige tempo, recursos, persistência e sobretudo brio e paixão”.


Todas as peças produzidas obedecem a regras e ao tema de cada edição, este ano “As 4 Estações de Perlim”. As propostas da ilustradora Raquel Pinheiro chegam à oficina para execução, Cristiana Henriques idealiza e projeta as que são exequíveis, encaminha-as para a serralharia ou carpintaria da oficina, onde é executado o esqueleto, seguindo depois para a cenografia e embelezamento pormenorizado de cada um dos elementos.


“São peças que levam muito tempo a finalizar. Até as tintas têm de ser misturadas aqui para conseguirmos as tonalidades corretas, fiéis à ilustração”, explica a cenógrafa, lembrando que foram precisas duas pessoas e uma semana de trabalho para executarem com todo o rigor e detalhes um conjunto de 12 flores novas. “Perlim tem um brilho especial, tem cores e pormenores originais, muito próprios, só nossos”, reforça Cristiana, formada em design industrial e com experiência a lecionar Artes e Educação Visual.


Nesta fase mais intensa de pré-montagens, a equipa é composta por dez elementos, dos 18 aos 46 anos, formados em Artes ou apaixonadas pelas Artes: Ana Isabel Soares, Andreia Alves, Andreia Araújo, Cristiana Henriques, Luís Bernardes, João Pereira, Márcia Fernandes, Mariya Malyuk, Nuno Cunha e Pedro Neca.


Prestes a completar 15 edições de Perlim, Cristiana Henriques não esconde o orgulho que sente ao ver o trabalho da sua equipa reconhecido pelos visitantes e confidencia a sua satisfação pelas reações do público, sobretudo o infantil. “Os dentinhos das crianças cravados nos doces espalhados pelo parque são um enorme reconhecimento. Para elas, são mesmo doces, e isso é maravilhoso”, remata.