Ao fim de 60 anos a fazer roupa por medida para homem e mulher, a alfaiataria de Eduardo da Silva, a última existente em Peniche, vai encerrar portas com uma exposição multimédia sobre o seu percurso.
Com 84 anos e 60 dedicados a este ofício, Eduardo da Silva vai encerrar de vez a sua alfaiataria “por motivos de saúde”, os mesmos que o levaram ao centro de dia, onde desde há umas semanas passa os seus dias.
Um acidente aos 7 anos afastou Eduardo da Silva do sonho de ser pescador, como o pai, e aos 11 anos “fez a vontade à mãe”: ser aprendiz de alfaiate e seguir a profissão do irmão mais velho, contou o próprio à agência Lusa.
Aos 15 anos começou a trabalhar, passando por mais uma outra alfaiataria e, 10 anos depois, deu seguimento ao negócio do então patrão e abriu a sua alfaiataria, empregando quatro costureiras e duas aprendizes.
“Naquela altura havia umas quatro ou cinco em Peniche”, no distrito de Leiria, disse, acrescentando que nesse tempo “havia muito trabalho”.
A dedicar-se de início a confecionar calças e casacos para homens, “chegou a fazer 14 calças por semana”.
Quando as mulheres começaram a usar calças, na década de 60 do século passado, acompanhou a evolução dos tempos e alargou o negócio à moda feminina, confecionando calças, saias e casacos para elas.
“Quando me apareceu a primeira mulher a querer mandar fazer umas calças, fiquei apreensivo, mas tirei-lhe as medidas como se fosse um homem e comecei a ter ainda mais trabalho”, recordou o alfaiate.
A publicidade ia de boca em boca, os clientes traziam outros clientes e o negócio foi florescendo.
Mesmo depois de reformado, foi mantendo aberta a sua alfaiataria, que agora a idade e a saúde o obrigaram a encerrar há poucas semanas.
Carolina Trindade, ‘designer’ de moda que tem vindo a pesquisar sobre métodos de fabrico de vestuário antigos e mais sustentáveis, conheceu o alfaiate nesse contexto.
A sua alfaiataria reabre assim no próximo fim de semana, pela última vez, com um exposição organizada pela jovem e por Pedro Mourinha.
O intuito é “homenagear o senhor Eduardo, chamar a atenção para os ofícios que vão desaparecendo e mostrar todo o trabalho por detrás de uma peça de roupa”, explicou Carolina Trindade.
A mostra é composta por fotografias da vida profissional deste alfaiate, peças de vestuário por si confecionadas, um documentário alusivo à sua vida, desenhos dos modelos das peças de vestuário, anotações, instalação sonora, vídeos e áudios das muitas histórias que lhes contou e das suas máquinas de costura, que agora se silenciam.