A Câmara de Coimbra terminou hoje a ligação contratual ao programador do Convento São Francisco (CSF), Luís Rodrigues, após uma funcionária do Café Concerto ter apresentado uma queixa junto da PSP por assédio contra aquele responsável.
Uma funcionária do Café Concerto tinha apresentado uma queixa junto da PSP, na terça-feira, por assédio contra o atual programador daquele espaço cultural de Coimbra, Luís Rodrigues, afirmou a visada à agência Lusa.
Em resposta à Lusa, a Câmara de Coimbra afirmou que o assunto deve ser tratado “com a serenidade adequada, evitando-se julgamentos precipitados, muitas vezes baseados em perceções erradas”, aguardando o “desenrolar e as conclusões do processo de investigação que possa vir a ser iniciado no sentido de apurar a verdade”.
“Naturalmente, o município de Coimbra reconhece e reitera a importância de promover uma política institucional que seja um exemplo de um espaço efetivamente livre de quaisquer formas ou suspeitas de potencial abuso ou de assédio. Exatamente por estas razões, face ao evoluir das circunstâncias e à inevitável deterioração das relações de trabalho e da sua imagem pública, a Câmara de Coimbra entende que deve suspender de imediato a ligação contratual ao atual programador, colocando termo às funções que desempenhava no Convento São Francisco”, acrescentou o município.
A Câmara de Coimbra admitiu que teve um conhecimento “genérico” da situação e da queixa apresentada “muito recentemente”, tendo, de imediato, sugerido ao programador que passasse a trabalhar a partir de casa e, paralelamente, disponibilizou apoio psicológico à queixosa, mesmo “não tendo esta qualquer relação laboral com o município”.
A agência Lusa teve acesso à notificação que a PSP entregou à queixosa, com idade na casa dos 20 anos, após esta apresentar a queixa-crime, na terça-feira, em que acusa Luís Rodrigues de a assediar, ao enviar-lhe constantemente mensagens pela aplicação WhatsApp, oferecendo-lhe boleia por diversas vezes, tendo acabado por bloquear o contacto.
Mesmo após o bloqueio, o programador do CSF, que assumiu funções em junho, em regime de avença, continuou a procurar contactar a jovem por diversos meios, que deixou de se sentir segura quando saía do seu local de trabalho, contou à Lusa a queixosa.
“Desconheço a situação”, foi a única resposta que Luís Rodrigues deu à agência Lusa, num breve telefonema, recusando-se a prestar quaisquer outras declarações.
Posteriormente, o programador do CSF enviou uma mensagem escrita à Lusa em que refere que não apresentou “nenhum pedido de demissão, nem existe qualquer fundamentação factual legal para o fazer”.
Segundo a queixosa, Luís Rodrigues teve acesso ao seu número de telemóvel em agosto, quando lhe pediu que enviasse por WhatsApp a carta do Café Concerto, que só estava disponível em formato de documento digital PDF.
A informação é confirmada pela conversa por WhatsApp que a Lusa consultou, tendo como primeira interação o envio dessa carta.
Alguns meses depois, Luís Rodrigues ofereceu boleia à ofendida, na altura em que esta terminasse o seu turno de trabalho no café.
Depois de a jovem ter aceitado a boleia por uma vez, o programador do Convento passou a insistir na oferta de boleias, cujos convites foram sempre recusados, contou à Lusa a queixosa, versão corroborada pelas mensagens no WhatsApp.
Depois de um convite para uma boleia que ficou sem resposta, Luís Rodrigues afirmou à vítima que se quisesse começar uma carreira na área técnica do teatro, seria possível que “no início do próximo ano” surgissem “algumas oportunidades em Coimbra”.
“Eu diria que terias perfil para isso”, refere o programador, numa mensagem trocada a 16 de outubro.
Posteriormente, a jovem, sentindo-se assediada, decidiu bloquear o contacto do programador do CSF no WhatsApp.
Após o bloqueio do contacto, Luís Rodrigues mandou uma SMS a perguntar se não daria para conversar, mas não recebeu qualquer resposta.
Segundo a jovem, o programador decidiu entregar um primeiro bilhete escrito, a pedir para falar com a queixosa, a 20 de outubro.
Cinco dias depois, enviou um SMS mais longo, em que pedia, “por favor”, para que a queixosa aceitasse um café com ele.
“Se quiseres até posso prometer que depois nunca mais te volto a chatear. Não te preocupes que não te causo nenhuma situação desconfortável”, referia.
Sem resposta, a 01 de novembro, entregou um segundo bilhete escrito a pedir “15 minutos” com a ofendida, após o trabalho, já depois de a 24 de outubro a jovem ter deixado claro a Luís Rodrigues, numa interação no café, que não queria falar com ele e que não se sentia confortável em ter qualquer interação com o mesmo, disse à Lusa a jovem.
“Prometo que não te coloco em nenhuma situação desconfortável! Por favor! Estou no meu carro”, pode ler-se no segundo bilhete a que a Lusa teve acesso.
A jovem contou à agência Lusa que acabou por se demitir do Café Concerto face à situação e, durante os últimos tempos, passou a ter medo de sair sozinha do CSF, após terminar o seu turno, que normalmente acontece à noite.