Autarquia “resgata” busto em gesso de Camões, da autoria de Almeida e Silva, e atribuiu-lhe uma nova “casa”, a Biblioteca Municipal de Viseu

Obra datada de 1913 foi encomendada, à época, pela Câmara Municipal, e serviu de molde ao monumento em bronze que homenageia o “Príncipe dos Poetas”, hoje na rotunda da Alameda Luís de Camões, junto à Escola Básica Grão Vasco. Pintor Almeida e Silva é o autor deste busto que, desde fevereiro passado, habita a Sala de Estudo da Biblioteca Municipal

Desde fevereiro passado que a Sala de Estudo da Biblioteca Municipal D. Miguel da Silva, em Viseu, conta com um novo e distinto anfitrião: Luís Vaz de Camões. O busto em gesso daquele que é considerado o “Príncipe dos Poetas” foi ali instalado pelo Município de Viseu, que “resgatou” a peça, nos 500 anos do nascimento do poeta, de um depósito de quase duas décadas, na Casa Amarela, no Largo de Santa Cristina. Após os respetivos trabalhos de limpeza e conservação, a peça pode ser agora apreciada por todos, neste espaço municipal. 

Da autoria do célebre pintor português Almeida e Silva, o busto em gesso, de dimensões consideráveis, resulta de uma encomenda da Câmara Municipal de Viseu, a 3 de abril de 1913, pelo valor de 175$000 reis. O objetivo era este servir de molde à obra em bronze, que a autarquia, à época, tinha intenção de erguer em memória do poeta, na Praça de Luiz de Camões (atual Praça D. Duarte), praça essa cuja alteração da designação foi deliberada em reunião de Câmara de 9 de junho de 1880. 

Atendendo ao seu valor artístico e histórico para a cidade de Viseu, o Município de Viseu devolveu agora esta obra à comunidade, atribuindo-lhe uma “casa” que, simbolicamente, celebra e valoriza a sua obra e legado no universo da literatura portuguesa. 

SOBRE O BUSTO EM GESSO 

Dimensões: 145 x 50 x 35 cm

Escultura de meio-corpo, em gesso, representando Luís Vaz de Camões, assente em base octogonal elevada. Um dos elementos que contribuiu para a solenidade da obra é o posicionamento dos braços, cruzados em “X” sobre o peito, sendo que a mão direita agarra e encosta um rolo de folhas mesmo por cima da zona do coração (numa referência óbvia à sua produção literária). O braço esquerdo encontra-se oculto por baixo de um longo manto que, no entanto, permite vislumbrar uma armadura metálica a cobrir o corpo do poeta. Esta indumentária fica completa com a inclusão de dois elementos iconográficos tradicionalmente associados a Camões: a gola em forma de fole e a coroa de louros sobre a cabeça. 

Outro aspeto importante reside na representação da cabeça: o seu ligeiro movimento lateral (contrariando a frontalidade do torso) e o olhar firmemente apontado para o horizonte ajudam a criar esta imagem de um homem maior, destemido e determinado, que é capaz de ver mais longe que os restantes compatriotas e sabe perscrutar o destino da sua nação.

Aos aspetos citados anteriormente, junta-se depois o tamanho da obra que, embora sem atingir proporções monumentais, ultrapassa claramente o tamanho natural da anatomia humana. Resta mencionar que esta figuração de Camões inclui todos os elementos iconográficos que permitem a identificação instantânea do poeta, incluindo o olho direito fechado, resultado de um ferimento sofrido durante uma escaramuça. A base é assinada em baixo relevo, na lateral direita, por “Almeida e Silva”, datada de “1913” e localização “Vizeu”.

CRONOLOGIA

·       1880: no III Centenário da morte do poeta, é assumida a vontade de lhe erigir um monumento em Viseu, sendo que a primeira pedra foi lançada a 10 de junho (edificação para a colocação de coluna em mármore e pedestal em granito, que deveria acolher o busto do poeta, de padrão clássico).

·       1913 (5 de outubro): o busto foi inaugurado em pleno centro histórico da cidade de Viseu, na praça onde outrora se ergueu o pelourinho e o antigo edifício dos Paços do Concelho, hoje conhecida pelo nome de Praça D. Duarte. 

·       2000 (10 de junho): reinauguração da obra, no local onde a mesma se encontra atualmente, na rotunda onde as ruas Alexandre Herculano e Dr. Alexandre Lucena e Vale confluem com a Alameda Luís de Camões. Esta cerimónia contou com a presença do então Presidente da República, Jorge Sampaio.