Macinhata do Vouga, Águeda, foi palco de um cenário arrepiante que está a deixar toda a comunidade em estado de choque. Um casal de idosos foi encontrado morto dentro da própria casa, na tarde da passada quarta-feira, e tudo aponta para um pacto suicida, uma hipótese avançada pela Polícia Judiciária (PJ) de Aveiro, que tomou conta das investigações.
A tragédia começou a desenrolar-se pouco depois das 16h00, quando Celestino, de 78 anos, ligou ao enteado e, numa frase arrepiante, anunciou o que estava prestes a acontecer: “A tua mãe já está, eu sou o próximo.” Cinco minutos depois, o filho da mulher entrava na residência da Rua do Cabeço e dava de caras com o impensável — os dois corpos sem vida, lado a lado, enforcados.
Foi ele quem ligou de imediato para o 112, às 16h17, acionando os meios de emergência. A GNR de Águeda foi a primeira a chegar ao local e, perante o cenário perturbador, com dúvidas sobre o que realmente teria acontecido, a Polícia Judiciária foi chamada a intervir. Os inspetores estiveram durante horas a recolher indícios, ouvir testemunhas e procurar respostas numa casa que, até há bem pouco tempo, era apenas mais uma moradia pacata de uma freguesia tranquila.

Celestino e Fernanda, de 70 anos, eram conhecidos na comunidade como um casal calmo e reservado. Tiveram uma vida marcada pela emigração no Luxemburgo e regressaram a Portugal para desfrutar da reforma, vivendo de forma aparentemente autónoma. Contudo, segundo apurou a TVC/Notícias de Águeda, nos últimos tempos a mulher estaria a enfrentar problemas de saúde, o que pode ter contribuído para a decisão extrema.
Apesar de ainda não haver confirmação oficial sobre as causas exatas da morte — a autópsia será determinante — a PJ já admite tratar-se de um homicídio seguido de suicídio ou de um pacto suicida. “Tudo aponta para um pacto suicida”, referiu uma fonte da PJ, recusando, no entanto, revelar mais detalhes nesta fase da investigação.
A possibilidade de o casal ter decidido morrer em conjunto, de forma planeada, está a ser levada muito a sério pelos investigadores. A chamada telefónica deixada por Celestino pouco antes da tragédia, aliada ao estado em que os corpos foram encontrados, reforça essa tese. No entanto, só os exames forenses poderão dissipar todas as dúvidas.
Enquanto isso, os vizinhos continuam incrédulos. “Nunca imaginámos uma coisa destas, eram pessoas pacatas, sempre educados, viviam sossegados”, comentou uma moradora, visivelmente abalada. Há quem fale em desespero, há quem acredite que o sofrimento calado dos últimos tempos terá precipitado uma decisão trágica.
Os corpos de Celestino e de Fernanda foram transportados para o Gabinete Médico-Legal de Aveiro, onde se aguardam os resultados da autópsia. A investigação continua, mas uma coisa é certa: Macinhata do Vouga não voltará a ser a mesma depois desta tragédia que, para muitos, ainda parece irreal.
O silêncio da casa na Rua do Cabeço é agora ensurdecedor. Fica a dor, a perplexidade e uma pergunta sem resposta: o que leva duas pessoas, após uma vida inteira em conjunto, a escolherem morrer da mesma forma, no mesmo dia, lado a lado?