O secretário de Estado das Comunidades, Emídio Sousa, lançou um apelo às famílias portuguesas residentes no estrangeiro para que promovam o uso da língua portuguesa no quotidiano familiar, sublinhando que esta prática é fundamental para preservar a ligação das novas gerações ao idioma e à identidade nacional.
Em entrevista concedida no Consulado Geral de Portugal em Nova Iorque, cidade onde iniciou uma visita oficial aos Estados Unidos, o governante explicou que está a ultimar uma revisão profunda ao regime jurídico do ensino do português no estrangeiro, que não é atualizado há quase duas décadas. O objetivo é torná-lo “mais atrativo”, melhorando condições como o acesso aos manuais, a frequência das aulas presenciais e a oferta de ensino online.
Admitindo ter recebido queixas de docentes sobre condições salariais pouco competitivas nos EUA, Emídio Sousa garantiu que o Governo está empenhado em criar um enquadramento mais robusto para apoiar o ensino da língua, frisando que, ainda assim, o papel das famílias é determinante. “A maior e melhor ferramenta para aprender português é falá-lo em casa”, reforçou, lembrando que muitas crianças e jovens de segunda e terceira geração acabam por perder contacto com a língua quando crescem em contextos mistos.
O secretário de Estado destacou ainda a dimensão global do português — com mais de 265 milhões de falantes, segundo a UNESCO — e o crescimento expressivo do ensino do idioma nos Estados Unidos, onde existem atualmente mais de 20 mil alunos no ensino básico e secundário e cerca de dois mil no ensino superior, acompanhados por mais de 400 professores. O português ganhou também relevância académica ao integrar o exame NEWL, que permite o acesso ao ensino superior norte-americano.
Durante a passagem por Nova Iorque, Emídio Sousa participou numa tertúlia cultural promovida pelo Consulado e reuniu com funcionários consulares, que expressaram reivindicações salariais. O governante reiterou o compromisso do Executivo em “estar próximo das comunidades” e valorizar o papel histórico da emigração portuguesa.
Governo atento às rusgas do ICE que atingem comunidades portuguesas
Paralelamente, e ainda em Nova Iorque, o secretário de Estado abordou as recentes rusgas do Serviço de Imigração e Alfândega (ICE), que têm gerado apreensão entre a comunidade portuguesa, sobretudo em Newark, onde se concentra uma das maiores diásporas luso-americanas.
Questionado sobre a operação realizada na quarta-feira na empresa Ocean Seafood Depot — propriedade do empresário português Luís Janota — Emídio Sousa classificou a situação como “muito preocupante”, apelando à regularização das situações de imigração irregular. Dezenas de agentes do ICE e do FBI entraram no estabelecimento, separando trabalhadores com documentação legal daqueles em situação irregular, num procedimento que reacendeu o clima de tensão.
O governante reconheceu que os Estados Unidos, enquanto país soberano, têm o direito de controlar a imigração, mas assegurou que Portugal acompanha de perto cada caso reportado, garantindo apoio jurídico, consular e, quando necessário, assistência em processos de repatriamento. Sublinhou, contudo, que estas matérias exigem “discrição” para salvaguardar os envolvidos.
Desde o início do segundo mandato de Donald Trump, multiplicaram-se as ações de fiscalização e aumentaram os relatos de detenções, incluindo de cidadãos com ‘Green Card’. Apesar de Newark ser considerada uma “cidade santuário”, as rusgas têm provocado preocupação entre empresas e trabalhadores portugueses.
A visita oficial de Emídio Sousa aos Estados Unidos prolonga-se pelos estados de Nova Iorque, Nova Jérsia, Massachusetts e Rhode Island, terminando na próxima quarta-feira.