O Ministério Público (MP) acusou formalmente de homicídio qualificado e profanação de cadáver o homem suspeito de em abril deste ano ter matado um outro homem e desmembrado o corpo no Cadaval, no distrito de Lisboa.
Segundo a acusação deduzida em 24 de outubro, e a que a agência Lusa teve hoje acesso, o arguido, de 51 anos, e a vítima, de nacionalidade brasileira, conheceram-se em 2007, quando o suspeito o ajudou a tratar do seu processo de legalização em Portugal, e mantinham desde o início deste ano uma relação amorosa.
Por se encontrar em “situação económica débil”, a vítima pedia com frequência dinheiro ao arguido para pagar a pensão de alimentos das filhas, a prestação do empréstimo do seu veículo e despesas de alimentação, ameaçando terminar a relação se não o ajudasse.
Tendo em conta as pressões da vítima, descreve a acusação, o autor dos crimes “foi-se convencendo cada vez mais” de que o namorado apenas mantinha a relação para poder obter benefícios económicos” e passou a desconfiar dele, controlando os seus movimentos.
Em 26 de abril deste ano, recusou ajudá-lo, o que terá levado a vítima a humilhá-lo, com ofensas verbais, e a deixá-lo revoltado.
Segundo o Ministério Público, na noite seguinte, após ponderar matar o companheiro, foi à casa das ferramentas da sua casa munir-se de uma marreta e, enquanto o companheiro dormia, desferiu-lhe com força pelo menos três pancadas na cabeça, causando-lhe várias lesões e hemorragia cerebral e, por conseguinte, a morte.
Por ter trabalhado na morgue do Cadaval e ter experiência no corte de cadáveres, esquartejou o corpo “para dele se desfazer de forma mais fácil” e colocou-o em sacos de plástico.
Já na madrugada do dia 28, transportou no seu veículo os vários sacos, atirou-os para diferentes locais isolados e regressou a casa, assim como escondeu num terreno parte do colchão manchado de sangue onde a vítima se encontrava a dormir.
Depois, regressou a casa e lavou a viatura, roupas, o chão e as paredes da casa, os móveis, as facas e o serrote que usou, para tentar esconder as provas do crime.
De acordo com o MP, o arguido agiu “com total desprezo pela vida” e sabia que as pressões e expressões dirigidas pela vítima “não eram motivo que minimamente justificasse a sua atuação de lhe tirar a vida”.
A descoberta de populares de um saco com parte de um corpo, na noite do dia 02 de maio, alertou a Polícia Judiciária (PJ), que começou a investigar o caso, encontrando depois mais sacos.
A existência de tatuagens em várias partes do corpo, uma das quais com referências à bandeira nacional do Brasil, durante a autópsia, permitiram às autoridades identificar a nacionalidade da vítima.
Três dias depois a PJ deteve o suspeito, que, após ser presente a tribunal, ficou a aguardar julgamento em prisão preventiva no Estabelecimento Prisional de Lisboa.