Fóssil de leopardo-das-neves descoberto em Portugal ajuda a desvendar mistério desta espécie ameaçada

Fóssil de leopardo-das-neves descoberto em Porto de Mós ajuda a desvendar mistério desta espécie ameaçada.

Uma equipa internacional de cientistas, incluindo investigadores da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa | NOVA FCT, publicou na Science Advances resultados de uma investigação sobre a evolução e as adaptações da linhagem do leopardo-das-neves durante a última Idade do Gelo.

Durante as fases mais frias da última Idade do Gelo, os leopardos-das-neves expandiram-se para além dos Himalaias, até à China central e, numa reviravolta surpreendente, também para o Oeste, até à Península Ibérica. Aqui, os investigadores estudaram um fóssil particular: um esqueleto parcial de leopardo, incluindo um crânio quase perfeitamente preservado, conhecido como o “Leopardo do Algar da Manga Larga”. Descoberto em Porto de Mós (Portugal) no início dos anos 2000, este fóssil é um membro da linhagem do leopardo-das-neves na Europa Ocidental.

Esta descoberta tem implicações significativas para a conservação dos leopardos-das-neves, uma espécie criticamente ameaçada. O estudo defende que os leopardos-das-neves dão prioridade a terrenos íngremes e rochosos e a climas frios, sem precisar necessariamente  de altitudes elevadas, desafiando as suposições há muito defendidas sobre as suas preferências de habitat.

O estudo destaca as caraterísticas únicas que distinguem os leopardos-das-neves dos seus primos mais comuns. Enquanto os leopardos comuns evoluíram para caçar presas rápidas e ágeis em habitats parcialmente florestais, os leopardos-das-neves desenvolveram caraterísticas distintas para dominar as paisagens montanhosas, incluindo molares maiores, crânios abobadados e mandíbulas e patas mais fortes – perfeitas para abater presas robustas como as cabras montesas.

A sua sobrevivência em terrenos rochosos e estéreis também dependia de outras adaptações fundamentais: a visão binocular melhorada, uma grande estrutura craniana ectotimpánica para uma melhor audição, membros poderosos para suportar o impacto de saltos entre rochas e uma cauda longa para equilíbrio. Todas estas adaptações desenvolveram-se rapidamente durante o Quaternário, particularmente a partir do Plistocénico Médio. 

As futuras investigações irão explorar a neuroanatomia e a paleoecologia deste espécime português: “o Leopardo do Algar da Manga Larga”.

“Foi realmente uma grande surpresa encontrar um membro desta linhagem de felídeos no Plistocénico de Portugal. Isto comprova a relevância de reestudar materiais depositados em museus, assim como a colaboração internacional, pois esta descoberta só foi possível graças a grande contextualização com outros materiais procedentes da China”, explicou Darío Estraviz-López, estudante de doutoramento em Geologia da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa | NOVA FCT.