Analisar a evolução e o crescimento do extremismo político no quotidiano e desenhar uma estratégia para estimular o diálogo político e social não extremista é a proposta central do projeto de investigação “OppAttune – Countering Oppositional Political Extremism through Attuned Dialogue: Track, Attune, Limit”. Vai ser desenvolvido por um consórcio de quinze países da Europa e vizinhança, sendo Portugal um dos territórios analisados no âmbito desta investigação, que no contexto português é coordenada pela Universidade de Coimbra (UC), através do Centro de Estudos Interdisciplinares (CEIS20-UC) e do Instituto de Investigação Interdisciplinar (iiiUC).
O projeto, que junta 17 parceiros, pretende vir a limitar o alcance e a progressão de narrativas políticas extremistas e violentas, transformando o pensamento de oposição através do diálogo social e político. É financiado pela Comissão Europeia através do programa Horizonte Europa, no âmbito da chamada “Reshaping Democracies”, que apoia investigações dedicadas ao estudo da evolução do extremismo político e a sua influência no diálogo contemporâneo, social e político. Vai arrancar em abril do presente ano, estando em curso até março de 2026, e vai envolver público geral, jovens cidadãos, influencers digitais, decisores e atores políticos e ainda a comunidade de investigação.
Como adianta Joana Ricarte, investigadora da UC e coordenadora do projeto em Portugal, «no contexto atual, em que observamos o crescimento por todo o mundo de discursos e práticas que afrontam as instituições democráticas, como, por exemplo, as recentes imagens vindas de Brasília, capital do Brasil, é vital compreender os processos que levam ao surgimento de pensamentos e comportamentos extremistas, desenvolvendo estratégias para combater o extremismo político violento». A investigadora do CEIS20-UC sublinha que o projeto pretende mostrar «que os pensamentos de oposição são vitais, sendo naturais e salutares em democracia, desde que não se tornem em diálogos e práticas violentas».
«É fundamental criar resiliência democrática e equipar os cidadãos com formas para lidar com o pensamento de oposição», destaca Joana Ricarte. É com base nesta necessidade que o projeto “OppAttune” vai desenhar um attunement model, que «vai procurar estimular o diálogo político, aumentando a sua flexibilidade, apesar das tensões e oposições, sem que se criem projetos políticos extremistas e violentos», adianta a especialista em Ciência Política e Relações Internacionais. Este “modelo de sintonização” vai materializar-se através da criação de uma ferramenta, chamada “I-Attune”, «que, funcionando como uma espécie de autoteste, vai permitir que os cidadãos detetem e rejeitem narrativas extremistas, contribuindo para transformar, de forma positiva, o pensamento de oposição», explica Joana Ricarte. Vão ser igualmente desenvolvidos outros contributos, nomeadamente ferramentas e materiais de apoio para facilitar o diagnóstico de ambientes sociais e políticos extremistas, plataformas online interativas, jogos e mapas do extremismo, assim como diversas ações junto de decisores e atores políticos e do público em geral para disseminar o conhecimento produzido no âmbito da investigação.
O “OppAttune” vai juntar 17 instituições, oriundas de 15 países, dado que a transnacionalidade dos discursos políticos extremistas é central num estudo nesta área, pois «as evidências sugerem que as ideias extremistas, embora articuladas e adaptadas para atender a contextos nacionais específicos, se espalham cada vez mais entre os ecossistemas de media nacionais, por meio de medias sociais, acelerando, assim, a transnacionalização de movimentos extremistas», contextualiza a investigadora.
Em Portugal, o projeto vai ser implementado em várias cidades – nomeadamente Coimbra, Évora, Portalegre, Guarda, Viseu, Faro e Vila Real –, amostra que cobre zonas onde se registou um «crescimento exponencial de um partido político cuja base ideológica e discursos assentam no racismo explícito, misoginia, xenofobia e populismo e na propagação de discursos de ódio, desinformação e teorias da conspiração, seguindo uma tendência de base transnacional», explica Joana Ricarte. Em 2025, Coimbra vai acolher a OppAttune Winter Academy, direcionada para decisores e atores políticos. Entre 2025 e 2026, vão ser organizados em Portugal vários eventos para promover o envolvimento de cidadãos no projeto.
Tratando-se de um projeto multidisciplinar, o “OppAttune” vai envolver investigadores de vários países, especialistas em áreas como Psicologia Social e Política, História, Antropologia, Ciência Política e Relações Internacionais, Media e Comunicação, Direito, Economia e Sociologia. Na Universidade de Coimbra, o projeto conta ainda com a colaboração de Luís Trindade, docente da Faculdade de Letras e investigador do CEIS20-UC.
O consórcio é coordenado pela Panteion University of Social and Political Sciences, na Grécia, e coordenado cientificamente pela The Open University, no Reino Unido. Integram ainda este projeto instituições da Alemanha, França, Suécia, Áustria, Malta, Turquia, Chipre, Eslovénia, Sérvia, Kosovo, Iraque e Bósnia.