BGUC revela 32 lugares imaginários da literatura

Da cidade de ‘Ensaio sobre a cegueira’, de José Saramago, ao Sítio do Picapau Amarelo, de Monteiro Lobato, há 32 lugares imaginários que habitam livros para descobrir até ao final do ano na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra (BGUC).

Sobre a cobertura das mesas da Sala de Leitura repousam as pranchas da exposição ‘A Ilha dos Amores e outros lugares imaginários das literaturas portuguesa e brasileira’, resultado da investigação que o diretor adjunto da BGUC fez para homenagear o escritor Alberto Manguel.

António Maia do Amaral leu dezenas de romances à procura de locais fictícios que constam em livros portugueses e brasileiros, numa evocação a “Dicionário de lugares imaginários”, que Manguel editou em 1980.

A ideia surgiu após a confirmação da presença do romancista argentino-canadiano no encerramento do Colóquio das Bibliotecas Icónicas da Humanidade, que a BGUC organizou no final de outubro. 

O bibliotecário, um apaixonado pelo ‘Dicionário de lugares imaginários’ – “uma obra extraordinária, feita antes de haver internet – lembro sempre isso às pessoas – e que por isso foi preciso ler, ler, ler” – decidiu homenagear o escritor com a exposição com que Manguel foi recebido em Coimbra.

“Levei um carrego de romances para férias”, recorda, e mergulhou à procura de lugares imaginados por outros autores. “Foi uma parte de prazer, algum sacrifício e também frustração”: primeiro pelo gozo que a leitura lhe proporciona, depois porque teve de ler “alguns péssimos romances” e, ainda, porque “há lugares que já li e não consigo recordar-me onde – daí a frustração”, explicou à agência Lusa.

Com a informação que recolheu de obras que vão de 1572 – ‘Os Lusíadas’, de Camões – a 2021 – ‘Hífen’, de Patrícia Portela -, escolheu 32 países, cidades ou casas descritas nas literaturas portuguesa e brasileira. Para cada um, reuniu informação como a que consta no dicionário de Manguel, com o aspeto físico, a organização política, “uma entrada muito ‘científica'”, para “descrever dos vários pontos de vista o lugar onde a literatura acontece”.

Patente há pouco mais de um mês, a exposição tem suscitado reações, tanto de “pessoas que foram tocadas”, como de outras que “acham que aquilo perturba um bocadinho e que será, talvez, estranhíssimo”.

Acima de tudo, o bibliotecário espera que os visitantes “reconheçam algum daqueles lugares e se divirtam. E, vendo uma coisa que lhes pareça interessante, vão procurar a obra”. Como o dicionário do Manguel, a intenção “é que as pessoas se despertem pelo lugar para depois irem ver o que acontece nesse lugar, lendo o romance”, diz António Maia do Amaral, cumprindo a missão de qualquer biblioteca.

“Esta é uma outra forma de promoção da leitura, de intermediação, de servir um produto, neste caso o livro”. 

Entretanto, viciou-se no processo de descoberta de lugares imaginários. “Não consigo resistir. Estou, volta e meia, a pedir mais livros na biblioteca para ler. Já tenho mais cinco [lugares imaginários], além destes. Eventualmente poderão constar numa publicação que seja o catálogo desta exposição e que, talvez, traga mais qualquer coisa”.

‘A Ilha dos Amores e outros lugares imaginários das literaturas portuguesa e brasileira’ pode ser visitada na Sala de Leitura da BGUC até 30 de dezembro.