De acordo com os vizinhos, o apartamento estava sobrelotado, que nem “uma autêntica camarata”, e funcionava como alojamento local clandestino.
Um adolescente, de 14 anos, e um homem, cuja idade não foi revelada, serão as vítimas mortais do incêndio que assolou a Mouraria, em Lisboa, na noite de sábado, revela a CNN Portugal. O fogo que brotou pelas 20h37 no apartamento do rés-do-chão de um prédio da Rua do Terreirinho deixou ainda 14 pessoas feridas, nove das quais já tiveram alta hospitalar. Contudo, pelo menos 20 pessoas terão ficado desalojadas, desconhecendo-se, até ao momento, as causas do incidente.
O apartamento T0 abrigava cerca de 10 pessoas, que se viram encurraladas pelas chamas devido aos beliches que ‘enchiam’ o pequeno espaço, segundo avançou o canal, este domingo.
A maioria dos moradores daquele prédio seriam de origem asiática, como é o caso dos afetados pelo incêndio. Encontram-se, agora, alojados num hotel disponibilizado pela autarquia, sem dinheiro nem documentos, que ficaram para trás. A CNN Portugal relatou, inclusivamente, que uma família do Bangladesh residente no terceiro andar do prédio tentou regressar a casa, mas foi ‘barrada’ pelas autoridades.
De acordo com os vizinhos, o apartamento estava sobrelotado, que nem “uma autêntica camarata”, e funcionava como alojamento local clandestino, havendo uma placa junto da porta do prédio que o corrobora.
Propriedade de uma sociedade imobiliária que faliu, o prédio ficou na posse de um banco, que vendeu os apartamentos. O proprietário daquele imóvel será um homem italiano que, segundo os vizinhos, está incontactável há meses. Estes tentaram denunciar o cenário vivido no rés-do-chão tanto ao dono, como à junta de freguesia, uma vez que o imóvel terá sido subarrendado a mais pessoas, depois de ter sido alugado a uma família. Todos os residentes cozinhavam ali, confecionando comida para vender.
Naquela noite, os vizinhos relataram ter ouvido “muitos gritos”, dando conta do pânico sentido pelos moradores. “Vim à varanda porque ouvi os gritos, e pareciam bombas”, disse uma vizinha à CNN Portugal.
Outra vizinha, por seu turno, contou ter visto “muito fumo, muita gente a gritar, e muitos murros na porta”.
“Ninguém vai ficar sem teto”
Segundo Tiago Lopes, do Regimento de Sapadores Bombeiros de Lisboa, a maior parte dos feridos deveu-se à inalação de fumos, na sequência do incêndio que brotou às 20h37 e foi extinto às 21h15, avançou a agência Lusa.
Informações preliminares indicam que, além dos dois mortos, das 14 vítimas do incêndio transportadas para hospitais, duas são de nacionalidade argentina e 11 da Península do Industão, região asiática que compreende países como a Índia, Paquistão, Bangladesh e Nepal, segundo disse Margarida Castro, diretora do Serviço Municipal de Proteção Civil de Lisboa, à Lusa.
Um português ficou também ferido, mas é uma “vítima colateral”, porque não estava no prédio quando do incêndio.
A responsável frisou que apesar de o incêndio ter sido apenas no rés-do-chão, o prédio ficou inabitável, pelo que será feita uma vistoria, na segunda-feira.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, falou, na mesma noite, com o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, para “se inteirar das consequências” do incêndio, lamentando a perda de vidas humanas.
“O Presidente da República falou esta noite com o Presidente da Câmara Municipal de Lisboa para se inteirar das consequências do incêndio esta noite na Mouraria, lamentando a perda de vidas humanas e inteirando-se da situação das pessoas afetadas”, indicou uma nota da Presidência da República.
O comunicando informou ainda que “Carlos Moedas, que estava acompanhado do presidente da Junta de Freguesia, Vitor Coelho, explicou a Marcelo Rebelo de Sousa os contornos conhecidos daquele daquele lamentável incêndio”, dando ainda conta das “iniciativas já tomadas pela Câmara Municipal para alojar e acompanhar a situação das pessoas afetadas”.
Na Mouraria, Carlos Moedas assegurou que “vai ficar tudo resolvido, ninguém vai ficar sem teto”, dirigindo-se ao local do incêndio de modo a “dar uma palavra às famílias”.
O autarca indicou ainda que a Polícia Judiciária “está a investigar” as causas por detrás do fogo, aproveitando para agradecer ao “Regimento Sapadores Bombeiros de Lisboa, à Junta de Freguesia, ao INEM” e às autoridades envolvidas na ocorrência, destacando que tiveram uma “resposta única”.
“A capacidade de resposta não falha. Quatro minutos e meio depois já estava cá o Regimento de Sapadores. Temos tido alguns incidentes [deste género em Lisboa], mas nenhum tão grave como este. Estamos aqui com as pessoas, para as pessoas, a fazer tudo o que podemos”, rematou.