O presidente da Câmara de Leiria, Gonçalo Lopes, reivindicou a construção de um campus de justiça nos terrenos do estabelecimento prisional, no Dia da Cidade, que se assinala hoje, com a ex-ministra da Justiça Francisca Van Dunem.
Durante o seu discurso, Gonçalo Lopes dirigiu-se a Francisca Van Dunem referindo que foi no seu mandato que Leiria teve “oportunidade de abrir um dossiê de grande importância para a região: a criação de um ‘campus’ justiça”.
“Estamos muito empenhados em tornar esse projeto uma realidade, o que envolve a criação de um ‘masterplan’ para os terrenos do estabelecimento prisional e património do Ministério da Justiça”, sublinhou o autarca.
Gonçalo Lopes considerou ainda que “esta é uma área de enorme importância para o futuro de Leiria, que poderá contribuir significativamente para a resolução de alguns dos desafios”, como o “défice na oferta de habitação, necessidade de crescimento do Politécnico e a garantia de melhores e mais dignas condições para os serviços do Ministério da Justiça”.
No Dia da Cidade de Leiria, o presidente da Câmara sublinhou que um dos seus desígnios é a “afirmação de Leiria como um concelho com futuro sustentável, em áreas como a mobilidade, habitação, ambiente, economia, assente em elevados patamares de qualidade de vida, seja na saúde, educação, cultura ou desporto”.
Apesar de ter sido eleito na lista do PS, partido que governa o país, Gonçalo Lopes garantiu que não deixará de “erguer a voz” sempre que entender que Leiria “não está a ser alvo do justo tratamento que se exige a esta região, que está na linha da frente na criação de riqueza nacional e na retaguarda na concretização de investimento público do Estado”.
“A distribuição de recursos públicos não pode continuar a ser aplicada na sua esmagadora maioria em apenas duas grandes aéreas metropolitanas, deixando o resto do país entregue a si mesmo. Há mais Portugal e mais portugueses para além de Lisboa e do Porto”, reforçou o autarca.
O aumento da imigração foi um dos pontos realçados por Gonçalo Lopes, considerando-o como “talvez o maior desafio no presente” e a “maior oportunidade para o futuro”.
“Nos últimos anos, Leiria tem tido a fortuna de registar um assinalável crescimento populacional, resultado da chegada de imigrantes, que escolheram o nosso concelho para concretizarem o seu sonho de vida”, constatou, ao referir que, em 2021, os números apontavam para “mais de 7.500 cidadãos estrangeiros, de 96 países”. Números que o autarca admitiu que “pecam agora largamente por defeito”.
“Estas pessoas que vivem entre nós, de metade das nacionalidades do mundo, são de uma diversidade notável que temos de saber integrar. Neste extraordinário mosaico humano, contamos com representantes da maioria dos países europeus”, disse ainda.
Para Gonçalo Lopes, “este repentino crescimento demográfico envolve desafios, resultantes da pressão acrescida sobre as infraestruturas de prestação de serviço público, seja na educação, no acesso à saúde, na gestão das rodovias e transportes, no acesso ao mercado de trabalho, no apoio social ou no parque habitacional”.
Mas, também “oferece oportunidades de crescimento e de desenvolvimento”.
A convidada Francisca Van Dunem lembrou que, “tal como os humanos, as cidades nascem, crescem, desenvolvem-se ou definham e morrem”.
“Morrer significa perder os traços que a caracterizam como lugares belos de ver e impossíveis de não amar”, precisou.
Segundo adiantou a ex-ministra da Justiça, que revelou ter ligações a Leiria por parte da família do marido, “a história de Leiria é a história do parlamentarismo português, da ecologia nacional, dos ofícios, do mundialismo e do empreendedorismo nacionais”.
“A realização aqui das primeiras Cortes Plenas, com a participação dos três grandes grupos sociais, em particular do terceiro estado — onde se incluía o povo — confere a Leiria pergaminhos únicos de democraticidade”, frisou.
Considerando que o que os cidadãos perguntam à sua cidade é: “tenho condições para realizar aqui os meus sonhos mais legítimos?”, Van Dunem afirmou que “Leiria tem sabido responder apropriadamente a essas interrogações” e “tem-no feito porque tem uma comunidade pujante de vida e lideranças mobilizadoras”.
A magistrada destacou ainda o “extraordinário exemplo de inclusão” que o Município de Leiria tem dado na “interação com o estabelecimento prisional, que nasceu como prisão escola”. “Muitos dos reclusos (…) são jovens dotados e talentosos, a quem a vida não reservou grandes oportunidades. Se sairão, ou não, de lá como membros ativos e atentos aos valores cívicos da nossa comunidade depende também um pouco de nós. A atenção que a autarquia lhes dedica é uma bênção”, acrescentou.