O presidente da Câmara da Guarda, Sérgio Costa, convocou hoje os jornalistas para esclarecer notícias e críticas de várias estruturas políticas locais sobre a decisão da autarquia em rejeitar assinar o acordo com a Direcção Geral das Artes (DGArtes) que garantia ao Teatro Municipal da Guarda (TMG) um apoio de 800 mil euros repartidos por quatro anos.
O assunto, como o TB noticiou, já tinha sido abordado em reuniões de Câmara e da Assembleia Municipal. Hoje, o autarca leu o relatório técnico que esteve na base da decisão e, entre outros aspectos, referiu que em 2019 o município destinou 360 mil euros para a programação do TMG e em 2022 o valor de 500 mil euros.
Sérgio Costa assegurou que, mesmo sem este apoio da DGARtes, o TMG terá «boa programação» e «virada para os vários tipos de público». «Se os resultados [da candidatura] estivessem à vista, nós poderíamos assumir continuar com esse investimento. Mas há o contrário. Em vez de aumentar, o público [em 2022] reduziu 40%», disse o autarca, para justificar a decisão. Recordou que para o município receber «800 mil euros, em quatro anos», teria de despender, naquele período, «mais de três milhões de euros». «Estamos a falar, por isso, num apoio que nós iríamos ter 25% apenas daquilo que nós tínhamos que investir», disse, lembrando que a decisão do executivo que lidera foi tomada com base num relatório técnico.
Sérgio Costa acrescentou que a candidatura «implicava que o município perdesse autonomia da programação, nos tais 85%, ficando obrigado a ir de encontro aos critérios e objectivos» da mesma. Explicou, depois, que, na análise dos anos de 2019 e 2022 (ano em que foi feita a candidatura), verificou-se este ano «uma diminuição muito acrescida do público» e «a programação da candidatura não se ajustou» ao público-alvo que frequenta normalmente o TMG.
Perante esta realidade, assumiu que o município decidiu não assinar a candidatura com a DGArtes. «E, agora, o grande desafio é continuar a fazer boa programação, tal como sempre se fez no TMG. Mais comercial, menos comercial, mais elitista, menos elitista, mais contemporânea, menos contemporânea, mais emergente, menos emergente, mas uma programação muito eclética e virada para os vários tipos de público que habitualmente visitam o Teatro Municipal, não só do concelho, mas da região e do país», assumiu.
O autarca disse que foram dadas indicações aos técnicos do TMG para que a programação continue a ser «eclética, de qualidade, feita pelos técnicos da casa, tal como sempre foi». «Não precisamos que venham programar por nós e a preços demasiado elevados. São os preços de mercado, nós acreditamos, mas os nossos técnicos conseguirão, certamente, continuar a fazer aquilo que fizeram durante os últimos 12 anos. E, por isso, esta programação se manterá com qualidade e para todos os públicos», rematou.
Quanto à receita, em 2019 foi de 60 mil euros e em 2022 a previsão aponta para «metade». Já em relação aos espectadores, disse que em 2019 foram cerca de 15 mil e, este ano, as estimativas apontam para entre nove a dez mil.
Dada a situação, depois de avaliados «os prós e os contras», o autarca de Guarda informou o director da DGArtes sobre a rejeição da candidatura relativa ao Teatro Municipal. Sérgio Costa também sublinhou que a Câmara continua a apostar no sector cultural e no orçamento para 2023 destina meio milhão de euros para a programação do TMG e vai continuar a apoiar as associações culturais, as companhias de teatro e os projectos culturais emergentes no território.
De recordar que, em Abril deste ano, na conferência de imprensa em que anunciou o apoio da DGARtes, o autarca da Guarda fez questão de revelar que o júri do concurso tinha considerado o plano da programação do TMG que constava da candidatura «apresenta qualidade e diversidade artística, propõe um equilíbrio entre as diferentes artes do espectáculo, apresentando projectos muito diversos e variados, de grandes espectáculos para massas, dimensão mediática a espectáculo de pequenos nichos de público». «É este compromisso que foi firmado nesta candidatura para os próximos quatro anos. E isto leva-nos a dizer que estamos efectivamente no caminho de fazermos cada vez mais cultura com os de cá, nomeadamente com estas co-produções que aqui estão bem referenciadas», disse na altura Sérgio Costa.
O presidente da Câmara chegou mesmo a considerar que «a atribuição deste apoio [da DGARtes] é manifestamente um reconhecimento institucional do trabalho e da relevância cultural que o TMG tem tido ao longo dos anos». Certo é que, no passado dia 22 de Dezembro, o autarca veio anunciar que não assinava o contrato com a DGARtes, referindo que a sua decisão se baseava num relatório técnico, que segundo adiantou, terá, entre outras, a assinatura de Victor Afonso, programador do TMG.