O presidente da Câmara Municipal de Carregal do Sal revelou hoje à agência Lusa que quer comprar a casa onde nasceu Aristides de Sousa Mendes para lá instalar um centro logístico nacional de apoio a refugiados.
“Nós queremos fazer da Casa do Aido, onde nasceu Aristides de Sousa Mendes – ele morou na Casa do Passal, mas nasceu na do Aido -, um centro logístico nacional de apoio aos refugiados, no seu geral”, explicou Paulo Catalino Ferraz.
À agência Lusa, o autarca considerou que, em Portugal, “há muitos serviços descentralizados e não há um centro de comando para apoiar os refugiados”.
A título de exemplo, apresentou o caso da guerra na Ucrânia.
“Andaram todas as entidades, as Câmaras, umas atrás das outras e foi uma que tomou a dianteira de todo o processo de centralização logística para envio dos donativos para a Ucrânia”, lembrou.
Neste sentido, defendeu que em Carregal do Sal, “que é central e tendo em conta as boas vias de comunicação, como o IC12, de ligação a qualquer outra via principal, há todas as condições para instalar um centro nacional” de apoio.
“Acho que Portugal tem todas as condições de criar um local que possa ser este centro logístico de apoio, seja à Ucrânia, seja a qualquer outro refugiado que, entretanto, existem no mundo em que vivemos”, disse.
Paulo Catalino Ferraz disse que, para isso, a autarquia está em negociação com o Governo e com a ministra Ana Catarina Mendes, para saber se há ou não o aval para avançar com o projeto.
“Já temos a disponibilidade da proprietária da Casa do Aido para nos vender o espaço, mas só vamos fazer este investimento se nos disserem ‘sim’ e que é possível colocar este modelo em prática, porque ainda é um preço avultado”, admitiu.
Questionado sobre os valores, o presidente especificou que, para a aquisição da casa, “é na ordem dos 150 mil euros e, depois, o investimento no espaço será na ordem dos 600 mil euros”.
“Faz falta esta estrutura a nível nacional, portanto, gostaríamos muito de criar aqui, num espaço que é a casa onde nasceu um dos maiores impulsionadores no mundo de apoio aos refugiados, um centro destes”, reforçou.
No seu entender, “são poucos no mundo os que ajudaram tanto os refugiados como Aristides de Sousa Mendes e, por isso, faz todo o sentido que este centro seja na casa onde ele nasceu”.
Nascido em 19 de julho de 1885, Aristides de Sousa Mendes, no início da II Guerra Mundial (1939/45), mais precisamente a partir de 1940, desempenhava as funções de cônsul em Bordéus (sudoeste de França).
Enquanto cônsul, concedeu cerca de 30 mil vistos para salvar a vida de refugiados do nazismo, a maioria judeus, contra as ordens expressas do então regime fascista português, liderado por António Oliveira Salazar.
Obrigado a voltar a Portugal, Sousa Mendes foi demitido do cargo e ficou na miséria, com a sua numerosa família. Morreu na pobreza em 03 de abril de 1954, no Hospital dos Franciscanos, em Lisboa.
Em 1966, foi reconhecido pelo instituto Yad Vashem, memorial dos mártires e heróis do Holocausto, como um “Justo entre as Nações” e, em 1998, foi condecorado a título póstumo com a Cruz de Mérito pela República Portuguesa, pelas suas ações em Bordéus.