Na chegada do Papa a Lisboa, cartazes lembram vítimas de abusos na Igreja

A ideia rapidamente tomou forma depois de, na rede social Twitter, um dos membros do movimento ‘This is Our Memorial’ ter partilhado um cartaz com 4.815 pontos vermelhos, que representam cada vítima dos abusos sexuais na Igreja.

Na madrugada desta quarta-feira, dia que será marcado pela chegada do Papa Francisco a Portugal, a propósito da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), três cartazes com os números das vítimas de abusos sexuais na Igreja foram colocados em Lisboa, Oeiras e Loures, com um objetivo bem definido: “Trazer para a luz do dia aquilo que querem que fique atrás de uma porta fechada e de um sorriso paternalista.”

A ideia, que surgiu no dia 26 de julho, rapidamente tomou forma depois de, na rede social Twitter, um dos membros do movimento ‘This is Our Memorial’ ter partilhado um cartaz com 4.815 pontos vermelhos, que representam cada vítima dos abusos sexuais na Igreja.

“Outro utilizador dessa rede sugeriu que se criasse um outdoor, financiado numa campanha de crowdfunding”, adianta o grupo, apontando que o objetivo “foi atingido em três horas e, na manhã seguinte, duplicou-se o valor inicial, permitindo a impressão de dois cartazes”. Foi, além disso, possível angariar fundos para um terceiro cartaz.

“Nada poderá corrigir ou reparar a experiência e a vida destas mais de 4.800 vítimas. O que podemos e devemos fazer é lembrá-las. Dar-lhes voz. Para que o que aconteceu jamais volte a acontecer. Não podemos dar voz ao silêncio para que, a seguir, se insista em voltar a silenciar as vítimas de abuso”, lê-se na página da entidade, que denuncia o “silêncio” não só Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR), como também das figuras políticas, destacando o próprio Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

Recorde-se que, em fevereiro, a Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja deu conta de mais de 500 testemunhos de abusos sexuais no seio daquela organização, e de, pelo menos, 4.815 vítimas.

Os casos de abusos sexuais revelados ao longo de 2022 abalaram a Igreja e a própria sociedade portuguesa, à imagem do que tinha ocorrido com iniciativas similares em outros países, com alegados casos de encobrimento pela hierarquia religiosa a motivarem pedidos de desculpa, num ano em que a Igreja se viu envolvida também em controvérsia, com a organização da JMJ e os elevados valores despendidos para o evento, que decorre até domingo, na Área Metropolitana de Lisboa.