As visadas garantiram que continuarão a “lutar pela sobrevivência”.
As três ativistas do movimento Climáximo que foram condenadas, esta sexta-feira, ao pagamento de 600 euros de multa pelo crime, em coautoria, de atentado à segurança do transporte rodoviário, ao terem cortado a circulação na rua de São Bento, em Lisboa, a 4 de outubro, asseguraram que continuarão a “lutar pela sobrevivência”, ao mesmo tempo que consideraram estar a ser “punidas por denunciar crimes de genocídio, quando os verdadeiros criminosos continuam livres para matar”.
“Desobedecer, quando está a dar-se a maior crise da história da humanidade, quando milhares de pessoas morrem todos os anos devido à crise climática, e milhões de pessoas são deslocadas das suas casas e das suas vidas, não só não pode ser criminalizado, como é um dever. Estamos cientes dos crimes horrendos que são cometidos há décadas, contra mim, contra ti, contra todas as pessoas. Sabendo isso, não nos peçam que aceitemos passivamente este destino; recusamo-nos a ser cúmplices. Sabendo o que todos sabem, há décadas, temos a obrigação de parar os culpados”, disse Carolina Falcato, uma das arguidas e membro do Climáximo, em comunicado enviado às redações.
À saída do tribunal, as jovens do movimento garantiram que continuarão a “lutar pela sobrevivência”, tendo uma das porta-vozes do coletivo, Leonor Canadas, apontado que “esta democracia está doente, e o mundo virado do avesso”.
E explicou: “Somos punidos por denunciar crimes de genocídio, quando os verdadeiros criminosos continuam livres para matar. Ainda existir uma ponte aérea entre Lisboa e Porto, a eletricidade não ser 100% renovável quando isto é tecnicamente possível, o novo gasoduto da REN, a expansão da entrada do gás fóssil em Sines, as explorações petrolíferas neo-colonialistas da Galp em Moçambique e no Brasil, esses sim são crimes contra a humanidade.”
A responsável atirou ainda farpas à justiça portuguesa que, na sua ótica, “vira-se contra quem denuncia, em defesa dos poderes instituídos e dos criminosos, em vez de defender as pessoas”.
“Evidência disso mesmo é a condenação de Mamadou Ba por difamação quando, tal como nós, apenas evidenciou a verdade que está à vista de todos. O Climáximo solidariza-se com Mamadou Ba, e manifesta todo o apoio”, disse, referindo-se ao caso do ativista, que foi, também esta sexta-feira, condenado a pagar uma multa de 2.400 euros por ter difamado Mário Machado, ao ter proferido que este foi uma das figuras principais do homicídio do cidadão cabo-verdiano Alcindo Monteiro, em 1995.
Segundo o coletivo, as suas ações de desobediência civil têm como objetivo “interromper a falsa normalidade em que vivemos para evidenciar que estamos todos a ser vítimas de crimes de guerra que não podemos continuar a consentir”, assim como para “chamar as pessoas para que se juntem” à “resistência”.
“Já que mais ninguém conseguiu parar com o aumento de emissões, e a justiça está conivente com os agressores, temos de ser nós a combater os criminosos”, rematou Carolina.
O grupo deu ainda conta de que organizará “alguns eventos de beneficência, como concertos com artistas apoiantes da causa, com entrada por donativo livre”, por forma a fazer face ao pagamento das coimas.