Leiria: Investigador resolve enigma sobre dois répteis com 150 milhões de anos em Portugal

  • O paleontólogo Alexandre Guillaume revela novas informações sobre dois répteis que habitaram em Portugal no Jurássico Superior;
  • A investigação estudou 150 fósseis do Museu Geológico de Lisboa, permitindo distinguir duas espécies diferentes de pequenos répteis que viveram em Portugal há 150 milhões de anos;
  • Os fósseis foram originalmente encontrados na mina da Guimarota, em Leiria;

Uma investigação realizada por investigadores da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade NOVA de Lisboa | NOVA FCT e do Museu da Lourinhã revelou novas informações sobre dois répteis que habitaram em Portugal há mais de 150 milhões de anos. O estudo, publicado na revista científica Acta Palaentologica Polonica, permitiu identificar e classificar corretamente fósseis encontrados na mina da Guimarota, em Leiria, um dos mais ricos depósitos de microfósseis do Jurássico Superior.

O trabalho liderado pelo paleontólogo da NOVA FCT, Alexandre Guillaume, em colaboração com investigadores da Universidade de Zaragoza (Espanha), analisou 150 fósseis armazenados no Museu Geológico, em Lisboa. Esta investigação fez parte do doutoramento do paleontólogo, que se dedica ao estudo da pequena herpetofauna (répteis e anfíbios) do Jurássico Superior de Portugal.

A investigação envolveu a comparação dos fósseis portugueses com espécimes semelhantes encontrados na América do Norte e no Reino Unido.

O estudo teve como principal objetivo reavaliar fósseis descritos nas décadas de 1970 e 1990 por paleontólogos da Universidade Livre de Berlim e identificar novos restos ósseos que não tinham sido reportados anteriormente. Foram analisados fragmentos isolados de mandíbulas, crânios, membros e vértebras para determinar se pertenciam a uma nova espécie do grupo dos coristoderos – pequenos répteis semiaquáticos semelhantes aos crocodilos, mas sem relação com eles.

Uma espécie do género Cteniogenys já havia sido descrita nos anos 1970, mas estudos posteriores questionaram essa identificação e levantaram a possibilidade de que alguns ossos pertencessem a outro animal“, explica Alexandre Guillaume. “O nosso objetivo era esclarecer esta questão”.

A equipa de investigadores conseguiu confirmar a presença do coristodero Cteniogenys na fauna jurássica de Portugal, embora sem conseguir determinar se se trata de uma espécie diferente das já descritas noutras regiões. Para além disso, identificaram uma nova espécie de réptil pertencente ao género Marmoretta, que representa um ramo primitivo da árvore evolutiva dos lagartos modernos.

“O Marmoretta drescherae não é um antepassado direto dos lagartos atuais, mas sim um representante primitivo de uma linhagem que se extinguiu no final do Jurássico”, esclarece o investigador da NOVA FCT. “Esta descoberta reforça a hipótese de que, no final do Jurássico, a América do Norte, a Europa e o Noroeste de África partilhavam faunas semelhantes, ao mesmo tempo que sugere diferenças ecológicas locais.”

Os investigadores esperam agora encontrar mais fósseis desta nova espécie noutras jazidas jurássicas portuguesas, o que poderá fornecer informações valiosas sobre o ambiente e os ecossistemas da época.

A Universidade de Zaragoza e a Universidade NOVA de Lisboa têm colaborado ativamente há quase uma década em estudos paleontológicos em Espanha, Portugal e Estados Unidos, entre outros, focando os seus esforços nas faunas do final do Jurássico. Este trabalho faz parte do projeto PTDC/CTA-PAL/2217/2021, financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT-MCTES) de Portugal, no qual ambas as instituições participam.