Um jogador famoso comprou uma quinta no Seixo da Beira, concelho de Oliveira do Hospital. Um grupo instalou-se por lá e quer ver reconhecida a autonomia e soberania do seu “Reino”. Um vizinho belga há muito tempo que vem denunciando, em várias reuniões de Câmara, as alegadas ilegalidades daquele grupo que começou a ocupar o espaço em Outubro de 2020. Mas sem grandes consequências. A “seita”, por seu lado, visitou, em Agosto de 2020, a autarquia e referiu-se a esse momento como “um encontro diplomático”. O caso é notícia lá fora.
O futebolista Pione Sisto, de 28 anos, é dono de 4,7 hectares de terreno, na freguesia do Seixo da Beira, concelho de Oliveira do Hospital, onde se instalou uma comunidade que exige o reconhecimento da autonomia e soberania do “Reino do Pineal”, o nome dado à quinta que ocupam. Este é um caso que se arrasta desde 2020, Eddy Hermus, que tem uma quinta ao lado do “Reino”, denunciou numa reunião de Câmara as alegadas irregularidades praticadas pela “seita” liderada por Água Akhabl Pinheiro. Mas as insistentes queixas, em reuniões do executivo e por carta, do belga para a autarquia praticamente não tiveram consequências. Agora, o caso ultrapassou as fronteiras. Não só de Oliveira do Hospital, mas nacionais, sendo relatado, por exemplo, pelo jornal globo, do Brasil, ou pelo espanhol ‘Marca’.
Em parte pela reportagem da Visão que pegou num caso que a nível local vinha a ser tratado pelo CBS, mas também pelo facto dos terrenos pertencerem a um jogador famoso. Trata-se do internacional dinamarquês Pione Sisto. Um futebolista com uma carreira assinalada pela excentricidade. Filho de sudaneses que fugiram da guerra, o jogador nasceu num campo de refugiados há 28 anos, no Uganda, e tem nacionalidade dinamarquesa. Jogou no Midjtylland, passou pelo Celta de Vigo, chegou a ser apontado ao Sporting e ao FC Porto, mas acabou por rumar de novo ao Midjtylland, depois de ter tido problemas disciplinares em Espanha. No final da época de 2022 foi afastado da equipa dinamarquesa, conforme contou Svend Graversen, director desportivo do Midjtylland. “Foi difícil comunicar com Pione, tivemos uma conversa com as pessoas que lhe são próximas, que também foi difícil. Não vimos nenhum avanço, o que lamentamos” disse aquele responsável.
A passagem pelo Celta de Vigo também ficou marcada por vários episódios, conforme recorda a ‘Marca’. Logo na apresentação surpreendeu toda a gente com a entrada dos pais, que protagonizaram um ritual indígena para lhe desejar sorte. O mesmo aconteceu quando regressou à Dinamarca. E, em 2020, em plena pandemia, foi de carro de Espanha até à Dinamarca, quebrando todas as normas sanitárias do país e do clube. Transmitiu a viagem nas redes sociais, explicando que “precisava de voltar a casa”. Acabou por ser dispensado pelo Celta nesse ano e regressou ao Midjtylland, onde jogou até Novembro de 2022.
“Recepção diplomática” na Câmara Municipal
Voltando a Seixo da Beira. A autarquia de Oliveira do Hospital tentou, por várias vezes, sem sucesso contactar os elementos do “The Kingdom of Pineal” devido às queixas de Eddy Hermus que os acusava de terem transformado o espaço num acampamento selvagem, com comportamentos perigosos em época de incêndios, além de outras ilegalidades. A autarquia tentou notificar o The Kingdom of Pineal, mas as cartas eram sempre devolvidas. Finalmente, enviou uma notificação sem aviso de recepção e os dirigentes do “reino” compareceram na autarquia.
Em Agosto de 2022 decidiram comparecer na autarquia e tiveram, segundo o que relataram nas redes sociais, uma “recepção diplomática” nos Paços do Concelho de Oliveira do Hospital, por parte do presidente da Câmara e colaboradores presente. Na altura, o The Kingdom of Pineal agradeceu “ao presidente José Francisco Rolo, ilustre prefeito de Oliveira do Hospital, e à sua equipa de vereadores a forma como foram recebidos. “Foram muito acolhedores e hospitaleiros durante a nossa visita diplomática. O nosso encontro foi frutífero e ajudou a fortalecer os laços diplomáticos entre o Reino de Pineal e o Concelho do Hospital Oliveira do Hospital”, podia-se ler na página oficial do instagram do “The Kingdom of Pineal”, sem adiantar as conclusões do encontro, referindo apenas que pretendem desenvolver uma “união e parceria frutífera”. O encontro, diga-se, foi muito criticado pelos vereadores da coligação PSD/CDS-PP que não entendem como foi possível realizar o encontro no salão nobre e de forma algo estranha.
“Não entendo como não há intervenção das autoridades. Eles, na maior parte, estão clandestinos”, acusava na altura Eddy Hermus, assegurando que grande parte dos elementos daquela sociedade são provenientes de fora da Comunidade Europeia, logo devem estar ilegais. As crianças também não frequentam a escola pública, como obriga a lei portuguesa. “Mas dizem que têm as suas próprias leis”, lamenta este belga, agora com 60 anos.
O The Kingdom of Pineal é, designada pelos próprios elementos, “como uma entidade física e espiritual constituída por seres humanos que escolhem habitar e/ou coexistir nesta Terra num estado soberano de ser baseado em Princípios Espirituais, Leis Espirituais e Naturais Universais” e pretendem que os documentos imitidos pelo “Reino” sejam reconhecidos.