O Gabinete de Apoio a Vítimas de Violência Doméstica e de Género da Cova da Beira acompanhou, desde o início do ano e até outubro, 254 casos de adultos na Covilhã, Fundão e Belmonte, 99 dos quais situações de 2023.
Segundo a cooperativa de intervenção social Coolabora, que coordena a rede, os números estão em linha com os do ano passado, quando de verificou um aumento em todos os indicadores.
Das 254 vítimas atendidas este ano, 89% são mulheres, 30% coabitam com a pessoa agressora e 36% têm menores a seu cargo. Em 95% dos casos acompanhados pela Coolabora, os agressores são homens.
O Gabinete de Apoio à Vítima tem registado nos últimos cinco anos um crescimento do número de vítimas idosas, que representam 19% do total.
No serviço especializado a crianças e jovens vítimas de violência doméstica, a Coolabora atendeu até outubro 102 pessoas com idades entre os três e os 18 anos, 41 casos novos este ano e os restantes que transitaram do ano anterior.
Nas crianças e jovens, adianta a presidente da Coolabora, Graça Rojão, em 86% das situações o agressor é homem e, se a violência psicológica se manifesta em todos os casos, a violência física está presente em 18% das crianças e jovens atendidos e a violência sexual em 05% das vítimas menores.
Graça Rojão sublinhou que a violência doméstica “é um problema estrutural” na sociedade, que tem de ser encarado e combatido como tal, e alertou para o “número elevadíssimo” de uma em casa três mulheres ser vítima de violência ao longo da sua vida adulta.
“Temos de olhar para os números da violência no namoro e perceber que isto é um fenómeno estrutural. Tem de se trabalhar muito a intolerância social face à violência e é necessário dar também às vítimas um sinal de que não estão sozinhas”, referiu a responsável, em declarações à agência Lusa.
Para Graça Rojão, é necessário “haver uma efetiva rede de respostas” no âmbito da Rede Nacional de Apoio à Vítima e defendeu que esses serviços devem ser suportados pelo Orçamento do Estado e não dependerem de projetos que “também vivem na precariedade”, para que “essa vulnerabilidade” da rede de apoio não torne tão difícil a resposta à violência doméstica.
Quase metade das vítimas acompanhadas na Cova da Beira, 44%, tiveram uma relação de intimidade com o agressor que já terminou, o que significa que acabar a relação “não significa pôr fim à violência” e muitas vezes até se avoluma.
“Há uma falta de perceção de que estes fenómenos são muito complexos e que é muito difícil às pessoas libertarem-se, porque estamos a falar de relações afetivas. Às vezes levam muito tempo, fazem muitas tentativas e isso são processos longos. Há imensas condicionantes que dificultam o processo de separação”, acentuou, à Lusa, Graça Rojão.
A presidente da cooperativa de intervenção social dá o exemplo dos filhos, da casa ou da vulnerabilidade em que a vítima se encontra, e muitas vezes da baixa autoestima no momento para dificultar a tomada de decisão.
A responsável da Coolabora alertou ainda para a o peso adicional do problema quando as vítimas são também, “implícita ou explicitamente”, consideradas culpadas pela sociedade.
“A violência contra as mulheres está assente numa cultura machista de dominação e há que romper com essa cultura, há que desmontar esses estereótipos. Isso é fundamental para um processo de verdadeira transformação social”, preconizou Graça Rojão.
A Coolabora assinala na tarde de sábado, na Covilhã, o Dia Internacional Para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres, com iniciativas no Jardim do Lago, às 14:30, de onde sai uma marcha até ao Jardim das Artes.