Escola de Turismo e Hotelaria de Seia recebeu chef português com estrela verde Michelin

Carlos Henriques, distinguido com uma estrela verde Michelin pelo seu restaurante em Helsínquia, comemorou com os estudantes da Escola Superior de Turismo e Hotelaria de Seia, da qual foi aluno, o Dia Mundial do Turismo.

Falou sobre “desperdício zero” e partilhou as práticas eco- responsáveis e sustentáveis que introduziu no seu restaurante Nolla.

O chef Carlos Henriques, fundador do primeiro restaurante “desperdício zero” da Escandinávia – o Nolla, em Helsínquia, na Finlândia – partilhou as estratégias e os resultados do seu projeto com os estudantes da Escola Superior de Turismo e Hotelaria de Seia, no âmbito das comemorações do Dia Mundial do Turismo.

O antigo aluno desta escola do Instituto Politécnico da Guarda – IPG, cujo restaurante conquistou uma estrela verde Michelin, descreveu aos alunos formas viáveis de conquistar o sucesso gastronómico na restauração através de práticas sustentáveis, não só economicamente, mas também ambientais, sociais e culturais.


“Percebi que se queria fazer isto durante muitos anos tinha de modificar as condições de trabalho, tanto para mim próprio, como para os trabalhadores: por isso, acabei com os horários repartidos”, descreveu o chef Carlos Henriques, justificando os turnos de sete horas e meia diárias que atribuiu a cada um dos funcionários do Nolla.

“Agora, ou trabalham de manhã, ou trabalham à noite – têm mais tempo para a família, estão mais felizes e a produtividade disparou”.


Carlos Henriques acrescenta que teve de fazer um grande investimento para introduzir essas e outras alterações, como repensar todo o menu. Não se arrepende, porque “o resultado foi extremamente positivo e não é por acaso que tenho funcionários que continuam comigo há mais de oito anos”, afirmou.

O Chef tem outros dois restaurantes e uma empresa de importação, mas foi o Nolla – que em finlandês significa ‘Zero’ – que o tornou reconhecido, sobretudo depois de o New York Times lhe ter dado grande destaque, na sequência de um serviço que Carlos Henriques efetuou na cidade norte americana.


Para além da estrela verde Michelin – que é atribuída a restaurantes que se destacam pelo seu compromisso com a gastronomia sustentável e as práticas eco-responsáveis como o uso de produtos locais, a gestão de resíduos e a sensibilização para a sustentabilidade – o Nolla foi ainda distinguido com o selo Bib Gourmand do Guia Michelin, o qual reconhece restaurantes que
oferecem excelente comida de qualidade a um preço acessível, com uma boa relação custo-benefício.


“Desperdício zero” e sustentabilidade
O restaurante foi o primeiro na região nórdica a adotar uma política rigorosa de conceito “zero waste” (desperdício zero), incorporando práticas como a compostagem de resíduos orgânicos no próprio restaurante, a reutilização de óleos e materiais, uniformes feitos a partir de lençóis hospitalares reciclados, copos e utensílios produzidos a partir de garrafas reutilizadas, produção de sabão com gordura alimentar reutilizada e a eliminação de plásticos descartáveis na cozinha.


Se o restaurante Nolla se afirmou como referência na gastronomia sustentável, isso deveu-se à aposta em soluções inovadoras para reduzir o desperdício alimentar. Perante os estudantes da Escola Superior de Turismo e Hotelaria de Seia, Carlos Henriques deu como exemplo o compressor industrial que se encontra instalado na sala principal do restaurante e que transforma todos os resíduos orgânicos em composto natural.

Este fertilizante é posteriormente oferecido, sem custos, aos agricultores que fornecem os produtos ao restaurante, fechando assim o ciclo de aproveitamento e eliminando qualquer tipo de desperdício, num claro exemplo de economia circular.


O Chef descreveu também uma ferramenta digital utilizada pelo restaurante que monitoriza em detalhe os resíduos gerados. Através de um software simples instalado num tablet, é possível identificar a quantidade, o tipo e a razão pela qual determinados alimentos são descartados. “Além de pesar e de calcular o valor económico do desperdício, esta tecnologia permite ao restaurante adotar medidas concretas para a sua redução, reforçando não só o compromisso ambiental, mas também a sustentabilidade económica do projeto.

Por último, Carlos Henriques deu a conhecer algum do trabalho social a que também se dedica. Exemplo disso é o recente “Pies for Peace” (Tartes pela Paz), um evento de cariz social no qual participam vários restaurantes, cada um confecionando uma tarte diferente.

“Todo o dinheiro que é angariado é destinado a organizações que fazem chegar comida à Faixa de Gaza”, afirmou.


No final desta jornada, o Chef confessou ter ficado “muito emocionado com o acolhimento caloroso que recebeu em Seia” porque não tinha contacto com o IPG há 16 anos. Fui “recebido como se estivesse em casa”, afirma.