O encenador José Caldas estreia em Coimbra, a 01 de junho, “O Homem do Caminho”, uma peça do brasileiro Plínio Marcos que, a partir da história de um saltimbanco, chama a atenção para uma sociedade triste, presa e reprimida.
A peça, realizada em coprodução entre a Escola da Noite e a Quinta Parede, vai estar no Teatro da Cerca de São Bernardo de 01 a 18 de junho, de quarta-feira a domingo, interpretando uma história do autor brasileiro Plínio Marcos, que começou por ser um conto transformado em monólogo teatral e que, neste espetáculo, apresenta três atores em palco, incluindo o encenador José Caldas.
Segundo a organização, a história centra-se em Iur, um “homem do caminho”, um saltimbanco que domina a arte de contar histórias, de enganar e iludir, mas também de dar prazer sexual.
Nesta peça, este “homem do caminho” surge em contraponto com os homens e mulheres sedentários, apontando para vícios de uma sociedade moderna, em que os homens (chamados de “homens-pregos”) têm uma vida rígida e as mulheres, reprimidas, ficam votadas ao silêncio e à ausência de prazer.
O espetáculo, que defende que Jesus também era um “homem do caminho” e que tanto usa canto gregoriano como música carnavalesca do Brasil, encontra nessa forma de vida sedentária e contida os pregos que crucificaram Cristo.
“Tocava-nos bastante este texto, porque é também uma espécie de metáfora da nossa profissão, que anda sempre de lugar em lugar. Tocava-nos bastante isso, mas também a religiosidade pagã, um pouco selvagem que surge neste texto, com um Jesus Cristo que também é um homem do caminho”, disse à agência Lusa o encenador brasileiro José Caldas.
Numa linguagem que é a “fala do povo na rua”, José Caldas e Allex Miranda desdobram o monólogo em dois (numa peça que conta também com a participação de Juliana Roseiro), por entre as várias histórias que são contadas por Iur.
Para José Caldas, o “homem-prego” é uma metáfora do “homem bem comportado, preso a um sítio, em contraponto” com os saltimbancos.
“O interessante é que Iur é esse Jesus homem, e os homens-prego tentam prendê-lo num sítio”, notou o ator Allex Miranda, que considera que há também uma reflexão para dentro do homem, uma procura por “se descobrir a si próprio”.
Com “O Homem do Caminho”, é a terceira vez que a Escola da Noite se debruça sobre a obra de Plínio Marcos, considerado um “autor maldito”, com várias obras proibidas pela censura no Brasil, por alegada “obscenidade” da linguagem tida pelas suas personagens.
A coprodução com a Quinta Parede surge na linha de trabalho da companhia de Coimbra dedicada à dramaturgia brasileira.
Também a encenação de José Caldas é um reencontro com a companhia, depois de já ter sido responsável pela encenação de “A Serpente”, da Escola da Noite.
O espetáculo “O Homem do Caminho” foi apresentado em antestreia na Guiné-Bissau, no final de maio.